domingo, 5 de setembro de 2010

Histórias mal contadas

A casa de quatro pisos de repente era vazia demais. Completavam seis anos que ela havia morrido, mal podia acreditar na velocidade em que o tempo passava. A todo momento ouvia conselhos como: "está na hora de continuar, viva a sua vida!", mas que vantagem insistir naquilo? Todos sabiam que para mim não fazia sentido, aquela história mal contada não servia para mim. O tempo passava e cada vez me importava menos, trabalhar, me alimentar, viver, morrer, por que agora faria diferença?
Ao descer as escadas que davam para a sala, com janelas que iam do chão ao teto, olhava a paisagem e lembrava do porquê da casa tão grande: "Vamos ter vários filhos, todos terão toda a atenção necessária e muito espaço para correrem, brincarem, para serem felizes!". E agora, mesmo sabendo que crianças felizes não correriam pela casa ou iriam ler um livro de contos de fada à luz do sol que entrava pela janela, não tive coragem de mudar de casa, tudo que me restava estava ali.
Esperava que talvez fosse apenas um pesadelo, do qual acordaria a qualquer momento, ou então, que o momento de adormecer e dormir para sempre chegasse logo, enquanto não chegasse, ninguém entenderia que aquilo que eu sentia não era só dor ou saudade, era um vício inevitável que me rasgava por dentro, que fazia cada orgão queimar, que implorava por ela, por sua voz, seu sorriso, eu sabia que aquilo não fazia de mim fraco, mas mesmo querendo, sabia que não superaria essa tortura.

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